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Conto VII - "A Guerra Lusitana"

por Eduardo Gomes, em 15.10.17

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Longe vinha o nascimento de Cristo. A contagem do tempo ainda se fazia, no ocidente, pela fundação de Roma que, cálculos feitos por baixo, teria uns cinco séculos à ocasião. Não havia muito que a Ibéria fora palco de guerra alheia. Seis décadas, tão-só. Quiçá aos vencedores conviesse o pretexto que uma insignificante colónia grega lhes fornecera; porventura o ouro da Bética os atraísse. Irrelevante. Certo é que o Império ali se instalou. Durante seiscentos anos as legiões militares calcorrearam as inovadoras calçadas, impondo aos nativos um inédito conceito de organização social e administrativa. Ofereceram-lhes em troca o acesso a uma fascinante cultura. Quando o tempo se escoou e os Bárbaros tomaram conta do lugar, restava apenas população romana nascida na Hispânia.

Mas não foi sempre assim. Recuemos ao ano 155 a. C.

Púnico era, ao tempo, o chefe da mais forte das tribos de Lusitanos. Asdrúbal, braço direito daquele, cartaginês de sangue , mostrava-se pensativo:

– Os Romanos não vão parar enquanto não subjugarem todos os povos. As expedições vão conquistando mais e mais terra, sobretudo desde que dividiram a Hispânia em Citerior e Ulterior e para aqui mandaram dois governadores militares.

– Trocam-nos todos os anos, e cada um que vem é pior do que o anterior.

– Pois se matam, também morrem – assegurava rispidamente Asdrúbal. – Somos gente que não se rende sem lutar.

– Outrossim o são os Celtiberos, não há por que duvidar.

– Devíamos enfrentá-los antes que seja demasiado tarde.

– Recordo-te que os últimos vinte anos foram de relativa paz – reconvinha Púnico.

Todavia o privado não estava pelos ajustes:

– Qual paz, qual carapuça; guerreiro que se preze deve atacar e pilhar as cidades que se submetem a Roma.

Prudente e ponderado, Púnico insistia em ver os dois ângulos de qualquer guerra:

– E como agressão atrai agressão... Porém, admito que a razão está do teu lado: há que combater Roma. Envia mensageiros às tribos amigas, em especial aos Vetões, para que venham juntar-se ao nosso exército.

– Que lhes dizemos?

– Que vamos atacar o Cineticum e a Bética. Também nós precisamos de mais e melhores terras.

– E saques... e pilhagens – parecia saborear por antecipação o já então excitado Asdrúbal.

A campanha não correu mal para os Lusitanos. Emmentes, a Púnico sucedeu Césaro. Em 152 a. C. os Romanos suportavam não só as investidas daqueles, mas também as dos Celtiberos, Dois anos mais tarde decidiram testar os inimigos, contra-atacando em força. Sorte diferente tiveram, pois enquanto Lúcio Licínio invadia território dos Vaceus com êxito, o exército de Sulpício Galba foi desbaratado pelos Lusitanos. Contudo, não fora para se desonrar que o romão viera ao ocidente. Na Primavera seguinte, a partir da Turdetânia, ambas as hostes se uniram para enfrentarem os Lusos. Foram enviados emissários a Galba, lembrando-lhe que o anterior responsável pela Ulterior, Marco Atílio Serrano, havia assinado um pacto de não-agressão com as tribos locais.

Césaro mandou chamar Asdrúbal:

– O governador propôs-nos a paz. Diz que sabe o quão pobre é o solo da nossa região e promete-nos terras agricultáveis se declararmos a lealdade a Roma.

O adjunto, desconfiado, contestou:

– O Galba faz promessas, e promessas leva-as o vento. O romano quer que entreguemos as armas. Acho que não deves aceitar as propostas.

– Mas o nosso exército está cansado e, nos últimos tempos, quase sempre derrotado. Combatemos há cinco anos. Os homens anseiam pela paz. Porventura não devamos perder esta oportunidade.

 

(Continua)

 

Os pais / encarregados de educação das crianças envolvidas neste projecto poderão solicitar a versão integral do mesmo através do e-mail: asvoltasdahistoria@gmail.com.

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